Congelar óvulos: Posso parar o relógio biológico e garantir que um dia serei mãe?

Atualmente, em pleno século XXI, mesmo com todos os avanços da Medicina de Reprodução, nenhuma clínica ou médico pode garantir o nascimento de uma criança saudável no futuro. Para além disso, uma das maiores falácias da sociedade atual é a de que temos tempo para sermos mães. Algumas poderão engravidar após os 40 anos, mas as estatísticas não são animadoras e os problemas de saúde para a mãe e o bebé são muito maiores.

Estas podem ser verdades duras mas que, enquanto profissionais, precisamos de transmitir, sem rodeios ou floreados, para consciencializar as mulheres e permitir-lhes que tomem decisões informadas sobre a sua fertilidade. Para que nenhuma mulher diga o que Jennifer Aniston disse numa entrevista em 2022: “Eu daria qualquer coisa a alguém que tivesse me dito: ‘Congele os seus óvulos. Faça um favor a si mesma. Você simplesmente não pensa nisso. Então aqui estou eu hoje. É tarde demais”.

A geração que nasceu nos anos 70/80/90, e que agora se encontra em idade fértil, construiu um raciocínio baseado em generalizações de casos excepcionais de familiares e amigos que conseguiram ter filhos aos 40-45 anos. São casos excepcionais (as estatísticas indicam menos de 5% de nados vivos), mas pouco se fala da regra: abortos espontâneos, falhas de implantação embrionária, embriões geneticamente anormais, etc.

A juntar a este facto, a entrada no mercado de trabalho é cada vez mais tardia e a estabilidade financeira difícil de alcançar, causando o adiamento da maternidade. A idade avançada da mulher, além dos fatores ambientais e endócrinos, estão entre os principais fatores de infertilidade, que atinge já 1 em cada 6 pessoas. Trata-se de um problema social, para o qual ainda não despertámos, e que se reflete nos números de mulheres e casais que procuram ajuda médica para engravidar nos últimos anos, em clínicas privadas e hospitais públicos – nestes últimos, o tempo de espera por um tratamento pode variar entre 1 e 3 anos.

Mas então o que podemos fazer e como é que a ciência nos pode ajudar?

É importante realizar uma consulta de Medicina de Reprodução e realizar doseamentos hormonais (FSH, LH, AMH, Delta 4,TSH, Prolactina, entre outras), ecografia com Contagem de Folículos Antrais (CFA) e refletir sobre o projeto de maternidade. Poderá colocar-se algumas questões, nomeadamente:
– É um sonho ter (mais) filhos? Ou prefiro não planear e deixar a vida fluir?
– Ainda não tenho uma decisão/posição quanto à maternidade? Tenho receio de me arrepender futuramente?
– Não faço planos de engravidar antes dos 35/38 anos ou não tenho parceiro para tal?

Então talvez valha a pena pensar e informar-se sobre a Criopreservação de Ovócitos por motivo de idade/social (o chamado “Social Egg Freezing”).

Entre a pressão familiar, da sociedade, da carreira, e da passagem do tempo para se ter filhos (sim, a biologia é implacável com a mulher, não podemos fugir a isso), a ciência dá-nos a possibilidade de “guardar” ou “preservar” esse projeto através da Criopreservação de Óvulos ou Ovócitos. Desta forma, poderá decidir ser mãe aos 42 anos com óvulos de 34 anos, por exemplo, o que fará uma grande diferença em termos de qualidade celular.

E o que é a CRIOPRESERVAÇÃO DE OVÓCITOS?
✅ A criopreservação de ovócitos é um procedimento seguro e relativamente simples, que envolve uma estimulação ovárica (através de injeções subcutâneas e/ou medicação oral que a mulher administra de forma autónoma em casa) e punção de ovócitos, e que oferece à mulher a possibilidade de ser mãe numa idade mais avançada com maior qualidade e quantidade de ovócitos, e menos problemas para ela e para o bebé;
✅ A idade ideal para o fazer é antes dos 35 anos (se possível, antes mesmo dos 30), quando a reserva ovárica da mulher ainda estará preservada (após os 35 a reserva começa a baixar e depois dos 40 tende mesmo a desaparecer);
✅ O processo pode variar entre 2.500€ e 4.000€ numa clínica privada (estes valores incluem a medicação), aproximadamente, o que não está ao alcance de todas as pessoas, infelizmente. No Sistema Nacional de Saúde apenas é possível fazer criopreservação por motivos de doença oncológica ou antes de um processo de mudança de género.

Apesar de ser uma oportunidade incrível, a Criopreservação de Ovócitos tem algumas limitações, a saber:
❌ Não é um “seguro” de gravidez;
❌ Não deve ser uma justificação, por si só, para que a maternidade seja adiada, quanto maior a idade, mais complicações existem para a grávida e o feto;
❌ Não invalida outros problemas associados à fertilidade e à gravidez que se possam descobrir no processo;
❌ Alguns estudos recomendam idealmente um lote de 15 a 20 ovócitos maduros para estarmos mais confortáveis em relação à descongelação, fecundação e implantação dos embriões criados, o que pode significar realizar mais do que uma estimulação. No entanto, o foco não é a quantidade, mas sobretudo a qualidade das células;

❌ A fertilidade é multifatorial e complexa, não é matemática, e as taxas de sucesso apresentadas são muitas vezes uma questão de linguagem (podem ser taxas de sucesso mundiais, nacionais ou das clínicas em particular; podem ser tão diversas como taxas de fecundação, implantação, gravidez, ou criança nascida saudável – esta última é a única que realmente importa). A criopreservação de ovócitos enquanto “social egg freezing” ainda é um fenómeno muito recente para haver estudos com amostras robustas sobre as taxas de sucesso de crianças nascidas;

❌ Lembro que entre ovócitos e filhos propriamente ditos há um longo caminho a percorrer… Ao congelarmos ovócitos não estamos a “congelar filhos”, mas sim a “congelar a possibilidade de um dia poder vir a ter filhos”.

Em resumo, a Criopreservação de Óvulos é uma opção que pode ajudar muitas mulheres e é bom saber que ela existe e que possa recorrer a ela, desde que com expectativas devidamente ajustadas.

Alguns dados sobre fertilidade feminina a ter em conta:

🟢 O nosso capital ovárico está definido à nascença;

🟢Ou seja, não produzimos nenhum ovócito novo durante a vida nem é possível aumentar a reserva ovárica;

🟢Quando nascemos, o número de ovócitos é de cerca de 1 a 2 milhões e, quando chegamos à puberdade e menstruamos, passamos a ter entre 300 mil e 500 mil ovócitos;

🟢Desde essa altura, perdemos aproximadamente 1.000 ovócitos a cada mês (sendo absorvidos pelo corpo) e apenas 1 será libertado para fecundação (em alguns ciclos, poderão ser libertados dois). Mas isto não é motivo de preocupação; este é um processo natural e contínuo, completamente independente de pílulas, gravidez, suplementos nutricionais ou até mesmo saúde ou estilo de vida;

🟢Após os 35 anos, a fertilidade diminui, e aos 40 há uma enorme redução na reserva ovárica, até a menopausa.

Se tiver dúvidas sobre a preservação da fertilidade, envie mensagem ou agende consulta.

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